quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Conto: Solidão

Conta a história de Mento Muala, um homem que cresceu sozinho em meio a um país com alto índice de pobreza e vendo o seu povo e sua família trabalhando muito para se manter e desde pequeno ele já trabalha para ajudar no seu futuro. '' Simples, despretensioso e respeitador, assim era Mento Muala. Mas também brigão, quando a ocasião a isso o obrigasse. Como daquela vez em que Cova Barro, em que pusera termo á festa, em pleno momento de animação.'' E a sua fama de brigão sempre o levava a arrumar confusões em dias de festa no seu grupo.

Mento também era um homem cheio de mulheres, pois era o mais bravo e viril da sua aldeia, sempre se mostrando forte perante aos outros, mas a solidão andava lado lado com ele, apesar de ter todas as mulheres ao seu redor, sabia que nenhuma iria te acompanhar em todos os caminhos, nem iria ajudá-lo em todos os momentos


'' Homem de mil caminhos e de mil ofícios - assim que o caracterizavam: aguadeiro, canalizador, pedreiro, marceneiro nas horas vagas. Nos trabalhos por onde andou, nuca desmereceu da fama de incansável que sempre o acompanhou. Mas quem conseguia deter Mento Muala mais do que cinco ou seis escassos meses num mesmo emprego? Ainda que acarinhado pelos companheiros, destacados vezes sem conta pelos chefes, partia sempre em busca do desconhecido, de novas gentes, acossado pelo desejo febril de romper com a monotonia''


Apesar de trabalhar muito, Mento tinha um sonho de ''crescer na vida'' e sair da sua aldeia em São Tomé e Príncipe, busca muitas vezes coisas novas, por isso, aprendeu a cozinhar só e ficou famoso por seu talento descoberto, sendo convidado de honra em festa e jantares da alta classe do país. 


'' Conta-se até que numa ocasião, no batizado do filho do amanuense José da Silva, em Batelo, após se ter servido de um calulu, cujo o amarelo-esverdeado do molho regalava a vista, Mento Muala respirou fundo, lançou o olha largo em direção á cozinha e inquiriu em tom lisonjeiro: - Eu gostava de conhecer a cozinheira desse calulu''


Após esse episódio Mento fica conhecido em toda a redondeza e também conhece a sua primeira e única amada Lencha. 


'' E tão sincera era, que um dia partiu sem deixar rasto. Mento encontro-a meses depois, insistira com ela para que voltasse, mas fora impotente para a convencer. Lembrava-se a ter agarrado com suavidade por um dos braços e de terem conversado durantes horas'' 


Mais uma vez se repetira o que sempre acontece na vida de Mento ele sozinho e triste por um instante chegou até pensar que sua vida melhoraria, mesmo com toda sua fama, ainda não conseguira uma amada. Voltou a procurá-la durante algum tempo, mas era como se a terra tivesse tragado. Mas as palavras dela ainda hoje lhe insuflam os ouvidos, como pequeninas campainhas a cujos sons se não podia furtar: felinas, contundentes e, pior do que isso, proféticas. Fora de fato a primeira e única a permanecer em sua casa, a amarrá-lo á vida sedentária que não era sua.


E o tempo passando, os anos avolumando-se, a saúde não lhe permitindo já os excessos e outrora. Agora mais propenso ao descanso, procuravam-no os garotos das redondezas para longas conversas, nas quais a imaginação sem limites se misturava com as reminiscências de uma vida rebelde e transgressora. 


'' Outrora grito de guerra, hoje já não se ouve nos luchans por onde Mento passava. Nem nos nozados as soias são já a encruzilhada de uma luta tão titânica e impiedosa entre reis e ucuês, príncipes e sum fiticêlo, como o eram dantes. Fecharam-se os caminhos do mato, já não é tão intensa e pura a luz do Sol que debrua de estranhos matizes as flores silvestres que contornam os atalhos. E isto porque, numa manhã chuvosa e triste de Setembro, em que o sol resignadamente se sumira... Mento Muala morreu.''

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